domingo, outubro 30, 2005

Insensatez

Insensatez

Insensatez do olhar
língua se desfaz,
excesso de prosa
ações sem rima,
sem modéstia;
versos petrificados
sem mimos,
narcisos;
matam tua identidade
sem piedade.

segunda-feira, outubro 17, 2005

Sem saída...ainda sou poeta

Sem saída...ainda sou poeta

Vestígios de mim, caminhei sem pés, mas com muito receio de virar a esquina. Murmúrios, sirenes, provavelmente estaria ali imóvel, estendida no chão. Resisti aos medos e dobrei a esquina. Mesmo que não quisesse olhar, segui e vi a face leve, uma das mãos no peito e a outra estendida sobre a calçada. Perto, apenas uma senhora a qual despertou minha atenção, versejava Fernando Pessoa e segurava uma pedra cravada com as palavras ´Alma da Poesia´ junto ao peito. Ouvi os pensamentos de pessoas que estavam mais próximas as quais se perguntavam: qual o motivo dos versos? Por que não rezava? Talvez seria uma endoidecida ou uma conhecida daquele corpo alvo com uma folha de papel em branco junto ao peito. Aproximei-me, sabendo que não seria notada, porém, puro engano. A senhora fixou os olhos através de minh´alma e disse - Basta de fuga, não finjas ser tua poética esgotável, teu corpo e alma são liras que se completam, as palavras tua pele... - Silêncio.
Não havia ninguém. Não existiam ruas, calçadas e muito menos esquinas. Apenas brumas e brisas.
Despertei no quarto com um papel em branco na mão e na mente a suavidade de versos declamados de Fernando Pessoa, que ecoavam dentro de mim:

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


Lembrei-me do adormecer, jurei naquela noite que jamais escreveria um verso. Cerrei os olhos e levei o fim da vida poética para um sono que pareceu eterno. Assim morri.
Inútil.
Sono de horas, sonho definitivo. Sobrevivi e ainda sou poeta.

quinta-feira, outubro 06, 2005

...quando caem as palavras


...quando caem as palavras

Nada sai dos lábios,
inodoras palavrasriscadas no invisível,
vãos e tormentas
silhuetas e ampulhetas,
o caos descompassadoentre penumbras do acaso,
o caso transformadoem versos obtusos,
inseguros segundospalavras caem entre os dedos,
grudam e perpertuam-se
na consciência do medo.
Segredo do trágico momento
em trajes de cimento,monumento de um instante vazio;
Silêncio...
esperança da volta do poeta,
convulsão repentina dos versos...