segunda-feira, outubro 17, 2005

Sem saída...ainda sou poeta

Sem saída...ainda sou poeta

Vestígios de mim, caminhei sem pés, mas com muito receio de virar a esquina. Murmúrios, sirenes, provavelmente estaria ali imóvel, estendida no chão. Resisti aos medos e dobrei a esquina. Mesmo que não quisesse olhar, segui e vi a face leve, uma das mãos no peito e a outra estendida sobre a calçada. Perto, apenas uma senhora a qual despertou minha atenção, versejava Fernando Pessoa e segurava uma pedra cravada com as palavras ´Alma da Poesia´ junto ao peito. Ouvi os pensamentos de pessoas que estavam mais próximas as quais se perguntavam: qual o motivo dos versos? Por que não rezava? Talvez seria uma endoidecida ou uma conhecida daquele corpo alvo com uma folha de papel em branco junto ao peito. Aproximei-me, sabendo que não seria notada, porém, puro engano. A senhora fixou os olhos através de minh´alma e disse - Basta de fuga, não finjas ser tua poética esgotável, teu corpo e alma são liras que se completam, as palavras tua pele... - Silêncio.
Não havia ninguém. Não existiam ruas, calçadas e muito menos esquinas. Apenas brumas e brisas.
Despertei no quarto com um papel em branco na mão e na mente a suavidade de versos declamados de Fernando Pessoa, que ecoavam dentro de mim:

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


Lembrei-me do adormecer, jurei naquela noite que jamais escreveria um verso. Cerrei os olhos e levei o fim da vida poética para um sono que pareceu eterno. Assim morri.
Inútil.
Sono de horas, sonho definitivo. Sobrevivi e ainda sou poeta.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Pupi,
Seja em prosa , seja em verso...
Você tem o dom das palavras...e da sensibiliddae!
Te adoro e me orgulho em ser tua mana
beijos cheios de saudade!!

11:14 PM  
Anonymous Anônimo said...

Querida amiga e poeta,
é um prazer imenso poder ler-te em mais este espaço...ficou lindo, repleto de sensíbilidade...
Adorei, parabéns!
Beijos!

6:50 PM  
Blogger Horacio Xavier. said...

Tuas palavras despencam em harmonia de sobre o céu do amor, para sob o céu do coração...voluptuosamente!!!

Grande beijo,

Horacio Xavier.

7:10 PM  
Anonymous Anônimo said...

Oi Maísa...
Será que você lembra de mim?
Aqui é o Renan do Wolny... você me deu aula em 2002...

Gostei muito do poema... é supreendente!!!

Também escrevo alguns textos, os coloquei numa comunidade no Orkut, se quiser dar uma olhada...
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=4841648

Saudades
Bjos ;0) T+!

12:45 PM  
Anonymous Anônimo said...

Oh!!! Minha Poeta Maísa...
O resistir ao tal de "Mêdo"
O ontem,
O telefone...
O tocar...
A frieza da noticia...
O frio calor das mãos...
A lagrima descida...
O seco cuspir...
O palpitar do coração...
A vontade de vomitar...
O rigido e cruel capital...
Da rua do Sol escaldante...
De João Pessoa,só na placa da parede...
O Olhar distante da irmã...
O matar menino do apilado Pilar...
Do virei tico...tico...
Do virei sabiá...
Jazz esquecido...
No olhar gelido e capitalista...
Tenho medo, de tudo...
Pois o poeta sobre hoje a dor do amanhã...

Um Beijão,desse malucado sentido...

Marcos Palmeira

7:16 AM  

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